Diploma ou Atitude

5 Fatores de Sucesso: quais as semelhanças entre Gestão de Projetos e a Condução de Automóveis?

A Gestão de Projetos tem o fascínio de ser um tema que nunca se esgota. Porquê? Porque a Gestão de Projetos não é uma tarefa fácil dado que pretende conciliar dois aspetos que tendem a ser contraditórios: por um lado a perspetiva interna (da equipa que pretende que lhe digam tudo de uma só vez para poder concluir o projeto rapidamente) e por outro lado a perspetiva externa (do cliente que pretende ter o melhor produto e que vai fornecendo ideias de melhoria ao longo do projeto).

Após ler o artigo do Rui Ribeiro sobre a chave do (in)Sucesso dos Sistemas de Informação, onde o mesmo classifica o gestor de projeto como um piloto em que o projeto é uma “corrida”, não podia passar o momento sem escrever uma série de ideias que costumo partilhar. Estas ideias usam a analogia da gestão de projeto com a condução de automóveis.

  1. Quais são as semelhanças entre gestão de projeto e condução de automóveis?

Considero que os pontos-chave para uma boa condução residem no piloto e no painel de instrumentos. O primeiro por razões óbvias. O segundo ponto-chave porque permite obter uma maior eficácia, seja um painel que indique os consumos e que torne a viagem o mais barata possível, seja um painel que indique o mapa do GPS e que o oriente de forma precisa, seja o painel que indica a velocidade e que o previna de ser multado, ou qualquer outro indicador relevante.

Num projeto em geral, e nas tecnologias de informação em particular, o gestor de projeto pode ser visto como o piloto e o resultado dos testes que se realizam, ao longo desse projeto, pode ser visto como o painel de instrumentos.

  1. Fatores de Sucesso

Partilho de seguida os 5 fatores que considero mais importantes, sem prejuízo de todas as características de competência e de qualificação que um gestor de projeto deve ter.

Convém referir ainda que estes fatores se aplicam aos mais variados projetos, sendo esses projetos tradicionais ou ágeis (poder-se-á discutir se um projeto ágil possui a figura de gestor de projeto, mas a exploração desta ideia será deixada para um próximo artigo).

Fator 1 – Gestão de Expetativas

Já perguntou ao seu cliente, no dia 1 do projeto, o que você tem que lhe dar para ele considerar, no final, que o projeto foi um sucesso? Um exemplo clássico que demonstra a importância desta pergunta é ter um cliente em que o projeto deve entrar em produção no próximo dia 1 de Janeiro (custe o que custar) e outro cliente em que a satisfação das expetativas dos utilizadores finais é o mais importante. A forma de gerir é necessariamente diferente: um requer uma condução mais desportiva que o outro!

Fator 2 – Controlo Emocional

Não apenas na gestão de projeto mas nas mais variadas vertentes da nossa vida, sem controlo emocional teremos sempre aspetos que nos arrependemos. Destaco esta necessidade para quando o gestor de projeto tem que transmitir calma e confiança à sua equipa, nos momentos mais delicados.

Fator 3 – Coragem

Das coisas mais difíceis para quem se inicia no papel de gestor de projeto é ter a disciplina de controlar o andamento dos trabalhos de forma a poder tomar medidas preventivas antes de serem tarde demais. As metodologias ágeis ajudam neste domínio mas não deixa de ser crucial ter coragem para dizer um “não” quando deve ser dito ou confrontar um interveniente quando este não satisfaz um compromisso assumido.

Mantendo-me na analogia da condução, quando se trava e as rodas bloqueiam, há que ter a coragem de aliviar o travão para recuperar a aderência, ou da mesma forma, quando se entra numa curva e o veículo começa a derrapar, é acelerando que se evita um despiste.

Fator 4 – Avaliação de Tendências

Este fator toca com a coragem do ponto anterior e com uma boa abordagem de teste do ponto seguinte. Saber colocar o importante à frente do urgente requer que se pare, analise os dados, verifique a tendência de evolução do projeto e se tenha a coragem de dizer no final do primeiro mês que algo tem que ser feito, pois caso contrário o projeto que demoraria 4 meses passará a demorar 8 meses!

É o mesmo que conduzir como se não existisse o amanhã, sem sequer pensar que o veículo precisa de manutenção!

Fator 5 – Boa Abordagem de Teste

Os testes são o painel de instrumentos. Mais do que o painel de instrumentos, a equipa de teste funciona como o “anjo da guarda” que consegue ter calma para pensar e que apoia o gestor de projeto quando este estiver sob grande pressão.

Para o próprio gestor de projeto é crucial ter alguém que saiba “tocar” nos pontos críticos e que o avise, com antecedência, que as coisas a manterem-se como estão, é o mesmo que ir a 200 km/h contra um muro e não ter visibilidade desse obstáculo.

Conclusão

Em suma, é importante ter em consideração os 5 fatores referidos. Esses fatores são ingredientes comuns aos projetos de sucesso. Da minha experiência, os ganhos que uma boa equipa de teste proporciona são enormes (opinião que é reforçada por quem faz a gestão de projeto) e esses ganhos serão cada vez maiores devido ao aumento de complexidade e omnipresença das tecnologias de informação, com um aumento gradual da orientação ao cliente, com as mais diversas interfaces (suportadas em dispositivos mobile, tablets, desktops, etc.).

Filipe Nuno Carlos – CEO da WinTrust
e Presidente da Associação
Portuguesa de Testes de Software